14 Filmes Akira Kurosawa disponíveis para download RVMB

Kagemusha – A Sombra do Guerreiro (Kagemusha) 1980

Quando um poderoso senhor da guerra no Japão medieval morre, um pobre ladrão contratado para personificá-lo encontra dificuldades para cumprir o seu papel e entra em conflito com o espírito do senhor da guerra durante tempos turbulentos no reino.Em 1980, Akira Kurosawa entrava na sua quinta década como realizador de cinema, e era mais conhecido fora do seu país natal, o Japão, pelos seus filmes de samurais, incluindo “Os Sete Samurais” (1954), “The Hidden Fortress” (1958), “Yojimbo” (1961), e “Sanjuro” (1962). Chegamos a “Kagemusha”, um passe ousado para o grande mestre japonês. Era um filme que o mestre japonês tentava fazer há mais de meia década, e só foi possível quando George Lucas e Francis Ford Coppola convenceram a 20th Century Fox a desembolsar um milhão e meio de dólares para os direitos de distribuição internacional. Nunca tinha feito um filme como este em scope, mas acabaria por fazer uma obra prima de enorme grandeza histórica, e de questões pessoais intimas sobre identidade e poder. “Kagemusha” é um dos filmes mais intensamente visuais de Akira Kurosawa, que alguns argumentam ser o resultado de um longo período de gestação. Durante cinco anos Kurosawa pintou centenas de imagens que serviriam de storyboard para o filme. Assim, ele tinha-o completamente mapeado na cabeça antes de pegar na câmara. As imagens pintadas ao longo do filme são impressionantes, pois Kurosawa habilmente mistura realismo com técnicas artistas e toques de surrealismo. Kurosawa encontra aqui a sua voz cinematográfica mais autoritária no momento em que a sua carreira era mais ameaçada. A década de 70 foi bastante difícil para ele, e chegou-se a pensar que não seria capaz de fazer outro filme. Felizmente “Kagemusha” trazia de volta o realizador, concorrendo para a Palma de Ouro em Cannes, e reacendendo a sua carreira definitivamente. 
Link
Imdb

Céu e Inferno (Tengoku to Jigoku) 1963

.Um grande executivo está numa situação crítica. Ele reservou uma verba para resolver problemas da fábrica de sapatos, quando descobre que o seu filho foi raptado. O resgate pedido pelos raptores aproxima-se do dinheiro separado para a empresa e será crucial para os seus negócios. Contudo, quando resolve salvar a vida do filho, acontece algo muito inesperado.
Depois do enorme sucesso de “Rashomon” em 1950, o filme que literalmente abriu os olhos do mundo para o cinema japonês, Akira Kurosawa passou a maior parte do tempo a fazer jida-geki, ou filmes dramáticos passados no passado, que incluía uma longa série de filmes de samurais, como “Os Sete Samurais” (1954) ou “Yojimbo” (1961). No entanto, durante este tempo ele também fez um punhado de gendai-geki, filmes dramáticos passados no Japão contemporâneo. Em cada um deles Kurosawa explorava questões pertinentes, morais e sociais, como o significado de viver (Ikiru), o medo da aniquilação nuclear (I Live in Fear), ou a prevaricação corporativa (The Bad Sleep Well).
Enquanto “Céu e Inferno” se encaixa perfeitamente neste segundo grupo de filmes, também se destaca como um thriller de mistério habilmente trabalhado, cuja história de um rapto e as suas consequências é tecida através de um retrato particularmente agudo da decadência do Japão Moderno. A idéia da moralidade e da honra debaixo de fogo, eram uma constante nos filmes de Kurosawa, mas nunca tinham sido tão vis e caóticas como aqui, principalmente no último terço do filme, passado nas favelas de Yokohama. Kurosawa tinha feito algo semelhante em “Cão Danado” (1949), um procedimento policial que era tanto sobre a natureza sórdida do submundo do crime como era sobre o seu mistério central, mas aqui assume uma febre ainda mais apertada do que anteriormente.
Foi nomeado para o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro em 1964.

Link
Imdb

Homem Mau Dorme Bem (Warui Yatsu Hodo Yoku Nemuru) 1960

Um jovem tenta utilizar-se da sua posição no coração de uma empresa corrupta para expor os homens responsáveis pela morte do seu pai. No dia do seu casamento, vários rumores e comentários circulam entre os presentes, que cinco anos antes, o pai de Nishi morrera após cair de uma janela do andar do edifício da empresa. Muitos duvidam de um suicídio. Nishi, tentará investigar sobre um possível assassinato de seu pai.
O título deste filme de Akira Kurosawa, “Homem Mau Dorme Bem” (Warui yatsu hodo yoku nemuru), evoca com perfeita clareza a visão cínica do filme, e do mal que corre no mundo moderno. Enquanto os bons lutam e sofrem para fazer o que é certo, os maus dormem em conforto, sabendo que não só a sua ganância e fraudes não pagarão dividendos, como estarão seguros na sua teia de corrupção. É aqui que o filme revela o seu sentido mais agudo de amargura, cumprindo a tarefa de mostrar que no mundo corporativo moderno o fim justifica os meios, principalmente se os poderosos permanecerem no poder. Apesar de ter sido feito à tantos anos, e no ambiente japonês do pós-guerra, pode ser mais relevante do que nunca.
Kurosawa tenta recriar um Hamlet contemporâneo, segundo o estilo assumido do noir americano dos anos 40, mas tem outras coisas em mente para poder ser considerado 100% noir. Era a primeira produção independente para a companhia do realizador, que infelizmente não durou muito tempo. O argumento era escrito segundo um livro de Ed McBain, e manipulado por um grupo de argumentistas que incluía o próprio Kurosawa e uma equipa formada por Shinobu Hashimoto, Eijirô Hisaita, Ryuzo Kikushima e Hideo Oguni.

Link
Imdb

Cão Danado (Nora Inu) 1949

Murukami (Toshirô Mifune), um jovem detetive de homicídios, é roubado nos transportes públicos e perde a sua pistola. Atordoado e envergonhado tenta recuperar a arma, mas não obtem sucesso até ter a ajuda de um detetive mais velho e mais sábio, Sato (Takashi Shimura). Juntos, irão rastreiam o culpado.
“Com mesclas do noir americano e uma bela referência a um filme de King Vidor, Cão Danado (1949) aparece como a provável primeira grande obra de Akira Kurosawa, um penúltimo passo (se excluirmos Escândalo, seu filme seguinte) antes de sua obra-prima primeva, Rashomon.
A construção relativa acima certamente se aplica a muitos leitores e fãs do “Luminoso”, mas no meu caso, ela é menos nebulosa, pois contemplo Cão Danado como um verdadeiro filme-trampolim para o Kurosawa Master dos anos 1950, e entendo-o realmente como a primeira grande obra do cineasta japonês.
 Em Cão Danado, já é possível perceber um amadurecimento patente das nuances mais recorrentes de Kurosawa, como o trabalho com a matéria natural (em especial, a chuva), a disposição em múltiplos ângulos no mesmo cenário, e o lado sentimental e humano que se faz presente em qualquer situação. Neste caso, a postura passional de um jovem investigador de polícia é quase toda a matéria do filme, e o drama policial gira em torno de um tormento particular e da criminalidade na periferia de Tóquio.
Duas das primeiras coisas que se destacam no filme são a fotografia e a direção de arte, que logram transmitir uma forte sensação de calor ao espectador (o filme se passa durante dias terrivelmente quentes), bem como de uma “poluição visual” do cenário, sempre com takes em ambientes abarrotados de coisas, e em sua maior parte, muito pequenos, intensificando ainda mais a sensação de calor e dando espaço para uma interpretação claustrofóbica da história que está sendo contada. Ambos os setores técnicos foram premiados no Mainichi Film Concours de 1949, que também deu a Fumio Hayasaka o prêmio de melhor trilha sonora e a Takashi Shimura o de melhor atuação (também por seu papel em Duelo Silencioso).”
Texto de Luiz Santiago, podem ler mais aqui.

Link
Imdb

O Anjo Embriagado (Yoidore Tenshi) 1948

Depois de uma batalha com um gang rival, um pequeno gangster é tratado por um jovem médico alcoólico no Japão do pós-guerra. O médico diagnostica tuberculose ao jovem gangster e convence-o a iniciar o tratamento. Os dois começam a desfrutar de uma amizade inquieta, até que o antigo chefe do gangster é libertado da prisão e volta para o seu gang mais uma vez. O jovem doente perde o estatuto de líder e torna-se condenado ao ostracismo, envolvendo-se numa luta com o ex-líder até à morte.
Se não for por outras razões, “O Anjo Embriagado” é um marco na história do cinema, por ter sido a primeira colaboração entre Akira Kurosawa e Toshiro Mifune, uma colaboração que se prolongaria por mais 15 filmes, ao longo de duas décadas. Kurosawa reconheceu imediatamente o poder da volatilidade  de Mifune em acção, e lança-o como um jovem bandido chamado Matsunaga. Curiosamente, a última colaboração dos dois seria em 1964, no filme “O Barba Ruiva”, no qual Mifune interpreta um médico que guia um jovem protegido na busca da maturidade espiritual.
O filme tem lugar nas favelas de Tóquio do pós-guerra, e foca-se na escória da sociedade – tanto nos pobres como nos criminosos que se alimentam deles. Kurosawa literaliza a corrupção social, centrando a maior parte da acção em volta de um esgoto no meio de uma praça do mercado negro. A fossa, que se torna um personagem importante, constantemente em ebulição, é a primeira coisa que vemos no filme. Kurosawa usa-a frequentemente como objecto de transição, e mesmo quando não é um objecto principal, está sempre lá no fundo, lembrando-nos em termos puramente visuais, de tudo o que é venenoso e destrutivo.
“O Anjo Embriagado” também é um filme importante na carreira de Kurosawa. Foi feito com os seus próprios meios, e mesmo que tenha sido obrigado a ceder em alguns elementos para se desviar dos censores dos americanos ocupantes, ainda é uma visão singular da corrupção da sociedade japonesa no pós guerra da Segunda Guerra Mundial. Kurosawa já tinha explorado este terreno antes, e vai continuar a fazê-lo por mais alguns anos, usando a luta dos bons personagens por entre as ruínas de Tóquio e os seus crescentes mercados negros, como uma forma de enfrentar as memórias remanescentes da derrota, e os desafios que se impõem da reconstrução.

Link
Imdb

Kurosawa e o Noir

Akira Kurosawa uma vez disse: “Gosto muito de Georges Simenon, e queria fazer alguma coisa ao seu jeito”. Simenon era um autor francês da década de 30, famoso pelas suas novelas de crime e ficção fortemente influenciadas pelo film noir francês. A influência de Simenon podia ser vista através da sua escrita, que minimizava a violência e a acção em troca de uma atmosfera visual escura. Ao afirmar a sua admiração por Simenon, Kurosawa identificava a sua influência no film noir.
Os filmes de Akira Kurosawa onde se pode aplicar o termo “noir” são os que têm as mesmas fontes literárias que os clássicos de Hollywood, misturados com o estilo do expressionismo alemão. Kurosawa gostava dos dois, então os filmes que conhecemos dentro deste estilo talvez sejam mais uma evolução paralela do que propriamente uma homenagem ou tributo.
 Dentro do ciclo do “Film Noir Japonês” vamos criar uma nova caixa, e nos próximos dias poderão seguir mais um ciclo dentro deste ciclo, onde poderão ser vistos os quatro “Noirs” realizados pelo famoso realizador japonês. Quatro filmes, todos de superior qualidade.

– “Drunken Angel” (1948)
– “Cão Danado” (1949)
– “Homem Mau Dorme Bem” (1960)
– “Entre o Céu e o Inferno” (1963)
Poderão ver tudo no fim de semana.Publicada por My One Thousand Movies em 18:17:00

O Idiota (Hakuchi) 1951

Depois de sair de um manicómio, um homem decide mudar-se de cidade. É quando Kameda viaja para Hokkaiko e acaba por se envolver com duas mulheres, vindo a relacionar-se com uma delas – ainda que esteja apaixonado pela outra. O drama instaura-se com a iminência de um assassinato, depois de uma perceber que não é amada e decidir tomar providências drásticas quanto à sua situação. 
Provavelmente não é muito razoável dizer que a adaptação de “O Idiota”, de Fyodor Dostoiévski por Akira Kurosawa, seja o seu filme mais esquecido. Ainda fresco do sucesso de “Rashômon”, o filme com o qual alcançaria aclamação internacional, e o título que abria portas do cinema japonês para o público ocidental, Kurosawa trocou de estúdio, do Daiei para o Shôchiku, para a sua próxima aventura, uma adaptação do seu livro preferido, do seu autor preferido. O resultado foi uma obra dividida em duas partes, com quase quatro horas e meia de duração, o que à partida o tornaria difícil de ser digerido pelo público. A pedido do estúdio, Kurosawa tentou cortá-lo um pouco mais, de modo a torná-lo menos complicado, mas mesmo assim não conseguia satisfazer os seus empregadores. Novos cortes surgiram, agora partindo do patrão, e os 266 minutos iniciais foram reduzidos para 166. A versão mais comprida era, de longe, a melhor, e estes 100 minutos cortados foram procurados durante muito tempo, mas acabaram por ser considerados perdidos para sempre.
O que nos restou acabou por ser um produto curioso. Apesar de algumas alterações terem sido feitas, principalmente terem movido a história da Rússia do século 18 para um inverno japonês pós-segunda guerra mundial, a história permaneceu muito fiel ao livro original. Também reunia um elenco do agrado dos apreciadores do cinema japonês clássico, incluindo Setsuko Hara, Yoshiko Kuga e Chieko Higashiyama. Para ajudá-lo, Kurosawa reuniu também uma equipa que era a nata do cinema japonês da altura, mas mesmo assim é bastante difícil avaliar esta obra, sabendo nós de antemão que poderia ter sido uma obra muito melhor, se a versão original fosse mantida.
Àqueles familiares com o livro talvez seja mais fácil de preencher os detalhes narrativos em falta, e trazer um sentido, atmosfera e espírito ao filme, mas infelizmente, dado o tratamento nas mãos do estúdio, é apenas uma parte de um todo. Ainda assim, é uma obra a descobrir. 

Link
Imdb

Viver (Ikiru) 1952

Muito embora Kurosawa seja principalmente conhecido pelos seus épicos sobre samurais (“Os Sete Samurais” e “Yojimbo, o Invencível”) os seus interesses não se resumem a sangue e entranhas – apesar de nenhum realizador ter explorado como o fez o cineasta japonês todas as potencialidades das imagens de violência no grande ecrã. Kurosawa é, acima de tudo, o maior humanista da sétima arte, e “Ikiru” é prova cabal disso.
O filme conta-nos a história de Kenji Watanabe (Takashi Shimura, um dos actores predilectos de Kurosawa), um sarariman, ou seja, um assalariado ou burocrata de nível médio, cujo dia-a-dia é monótomo ou insatisfatório. O feito de que mais se orgulha é nunca ter faltado ao emprego durante os trinta anos em que trabalhou na secção do cidadão da Câmara Municipal. Kenji não se arrepende da mundanidade da sua existência simplesmente porque desconhece qualquer outra opção. Porém, tudo muda ao descobrir que tem um cancro e já não tem muito tempo de vida. Nos meses que lhe restam, Watanabe reconsidera as suas prioridades e realizações, e decide que nunca é tarde demais para mudar o mundo. Todas as suas energias são canalizadas para a construção de um parque público – um pequeno gesto que, para Kenji e Kurosawa, carrega, contudo, grande significado.
Em “Ikiru”, Shimura brinda-nos com o desempenho da sua vida. Descoberta a doença de Kenji, o rosto do actor diz-nos o que precisávamos de saber. E as suas feições revelam-nos o mais vasto leque de emoções, da humildade à pura inexpressão. De facto, é-nos impossível não sentir a dor de Watanabe, dado que Shimura atravessa a película com um rosto marcado pela angústia. Se bem que esteja repleto de tristeza, “Ikiru” é, no final de contas, um filme de elevação espiritual. Aliás, esse é o propósito de Kurosawa: apresentar o sofrimento como parte integrante da vida, passível de ser utilizado de forma positiva para a obtenção da felicidade e da realização pessoal. Por outras palavras, “Ikiru” celebra a existência, apesar de o seu tema girar em redor da morte e do desgosto. Kurosawa, graças ao seu talento, mostra-nos como estes sentimentos não se contradizem, antes se completam, enquanto elementos do ciclo da vida. Na aldeia global e cínica dos nossos dias, a crença na importância das pequenas coisas, tal como é defendida pelo cineasta, não poderia ser mais tocante.” Ethen de Seife

Link
Imdb  

Sanjuro (Tsubaki Sanjûrô) 1962

“O sucesso comercial e de crítica de “Yojimbo” foi tal que Akira Kurosawa foi pressionado a escrever, contra vontade, uma sequela. Os elementos marcantes no primeiro filme (mistura inusitada entre comédia, tragédia e ultra-violência) mereceriam um novo doseamento em “Sanjuro”: em termos de swordplay, menos quantidade, mais qualidade; o negrume seria quase extirpado, em virtude de um acréscimo de humor físico, entre o slapstick e a auto-caricatura.
 “Sanjuro” é um entretenimento assumidamente light, ao pé de “Yojimbo”, sem, no entanto, fugir àquilo que é apanágio desta faceta da obra de Kurosawa: narrativa inteligente e simples, acção minuciosamente coreografada e personagens carismáticas.
Na realidade, apesar de ambos serem autênticos cocktails cinematográficos (western + musical + filme de acção puro e duro), “Sanjuro” é assumidamente mais directo e acessível que “Yojimbo”: a acção e a comédia consomem cada partícula do filme, não havendo tanta preocupação em retratar as personagens e o seu modus vivendi na sociedade japonesa de meados do século XIX.
O filme começa com um grupo de 9 jovens, e inexperientes, samurais dispostos a arriscar as suas vidas no combate contra a corrupção. A sua reunião é interrompida pela intromissão de Sanjuro, que, aparentemente de forma desinteressada, se junta ao grupo. O seu sangue-frio e argúcia tornam-no num líder incontestável no seio do movimento, mas, do lado dos “maus”, haverá quem lhe faça frente. E é o duelo final, aquele que Kurosawa descreveu no seu argumento como sendo “inefável”, o zénite de “Sanjuro”: a simetria e a suspensão irrespirável que se estilhaçam num golpe relampejante. Kurosawa não cedeu, mesmo após dois filmes, e manteve Sanjuro, ou o “homem sem nome”, que vai e vem, deixando um rasto de sangue atrás, como um invencível Deus da guerra. Não me interpretem mal, Sanjuro é justo e bom, mas também é alguém que odeia a paz: enquanto esta subsistir, ele diz “See ya later”.”
Por Luís Mendonça, daqui.

Link
Imdb

Yojimbo, o Invencível (Yojimbo) 1961

Sanjuro, o samurai solitário, qual John Wayne nipónico, chega a uma pequena comunidade, dividida entre dois gangs, com um objectivo em mente: negociar o seu futuro. A sua chegada é notada, depois deste exibir uma extrema agilidade no manejo da espada, deitando abaixo, sem pestanejar, um punhado de malfeitores. O sangue-frio e a forma implacável como ceifa vidas – “uma morte por segundo”, queria Kurosawa – fazem deste o mais cobiçado guerreiro da vila. Mas Sanjuro é arguto, tacteando cinicamente o terreno nos dois lados da barricada, antes de tomar partido.
“Yojimbo” é um filme de acção, pincelado com um humor negro mordaz, ou um western tresloucado e, para o seu tempo, ultra-violento (membros decepados e algum sangue jorrado) desenrolado em pleno Japão do século XIX. O (anti-)herói desta trama é apresentado como sendo o mais consciencioso “homem de guerra”, enriquecendo à custa dos autênticos massacres que executa. Mas até tem, vamos descobrindo, o coração no sítio…
Na senda de “Seven Samurai”, Akira Kurosawa cria um objecto raro: visual e sonicamente assombroso, com a utilização magistral do widescreen e de efeitos sonoros inovadores (para além dos temas musicais desconcertantes, o som do esquartejar da espada e do vento empoeirado são elementos fulcrais nas cenas de acção) e exemplar na escrita, pejada de reviravoltas, jogos mentais e algumas deliciosas bizarrias (exemplo da buñueliana “mão de boas-vindas” que Sanjuro vê na boca de um cão vadio, mal entra na conturbada vila).
Para mais, “Yojimbo” vai beber ao carisma imenso do seu actor principal, o braço direito de Kurosawa: Toshirô Mifune. Ele reinventa o género do cowboy solitário, lacónico (falando, sem falar), cerebral e, acima de tudo, cool. Em certa medida, esta composição de Mifune esteve na origem da carreira de Clint Eastwood, já que “Per un pugno di dollari” de Sergio Leone, o seu primeiro grande sucesso, é um remake de “Yojimbo”.
O círculo completou-se em 2006, quando Eastwood homenageou o legado Kurosawa-Mifune com uma obra colossal: “Letters From Iwo Jima”.
Por Luís Mendonça, daqui.

Link
Imdb

A Fortaleza Escondida (Kakushi-Toride no San-Akunin) 1958

A princesa Yukihime sobreviveu à destruição da sua família na sequência das grandes guerras civis que assolavam o Japão feudal e esconde-se nas montanhas, fazendo-se passar por uma simples camponesa. Sob a protecção do general Rokurota, a princesa – que conseguiu esconder parte do ouro que pertencia ao fabuloso tesouro da sua família – parte em busca de um território seguro e de um foraleza secreta. Dois marginais errantes, Tahei e Matashiki, juntam-se à princesa e ao general nesta incrível odisseia recheada de perigos e aventuras.
Há sempre um ligeiro choque estético ao assistir a um filme de Akira Kurosawa. As suas obras, mesmo que sejam de entretimento, como este “A Fortaleza Escondida”, são tão sensualmente vivas, e hoje em dia parecem muito mais modernas do que os filmes de Hollywood daquela época. “A Fortaleza Escondida” é um épico de comédia de acção, produzido pelos Toho Studios, e mesmo por resvalar para a comédia, era um dos filmes menos esperados do realizador Kurosawa, sobretudo por ter sido feito no ano a seguir a “Trono de Sangue”. Mas trata de uma maneira divertida temas que o próprio Kurosawa poderia transformar na mais cruel anatomizações da natureza humana.
“A Fortaleza Escondida” foi citado por George Lucas como base para o seu primeiro “Star Wars”, principalmente na forma como a história de desenvolve, através dos olhos de dois personagens cómicos. Toda a narrativa de “Star Wars” mostra a forte influência do realizador japonês. Rokoruta (Toshiro Mifune) faz lembrar tanto Han Solo como Luke Skywalker, na sua relação protetora e obediente, de amor e ódio com a princesa. Também há o vilão preferido do público, quando Rokoruta encontra um velho amigo Hyoe Tadokoro (Susumu Fujita), que comanda as tropas para Yanama. Tadokoro é derrotado num duelo mas Rokoruta não o mata, e o villão vai aparecer mais tarde cheio de cicatrizes no rosto. Tudo isto é comum a este filme, e a “Star Wars”.

Link
Imdb

Trono de Sangue (Kumonosu-jô) 1957

 No Japão do século XVI, os samurais Washizu e Miki encontram uma feiticeira de regresso para casa, depois de vencerem uma batalha. Ela prevê que Washizu venha a ser o Senhor do Castelo do Norte. Este é o início de uma sangrenta luta pelo poder.
“Trono de Sangue” é uma revisão de “Macbeth”, de William Shakespeare, por Akira Kurosawa, através da lente histórica do Japão feudal, e as convenções estéticas do Teatro Noh. É uma obra-prima de imagens expressivas. Violento e intensamente melodramático, filtra os temas da ganância, do poder, e da luxúria, através dos elementos visuais que são tão ricos e texturizados que assumem uma vida própria. Os elementos naturais do nevoeiro, chuva, e os emaranhados impenetráveis de uma floresta infestada por espíritos, tornam-se personagens que medeiam a história de um guerreiro que perde a sua humanidade em busca pelo poder.
A ganância e o egoísmo já tinham sido elementos importantes no filme da descoberta de Kurosawa, “Rashomon” (1950), mas aqui elas assumem um tom ainda mais escuro, à beira do Niilismo. Um destino pesado paira sobre tudo o que acontece em “Trono de Sangue”, e os personagens no fim parecem fantoches, e as suas débeis tentativas para orientar a sua vida foram passageiras, como a névoa perpétua que assombra a paisagem vulcânica desolada.
Os actores de Kurosawa trabalham num estilo grandioso, que tem a tendência a chocar algumas pessoas, como involuntariamente cómico (as contorções faciais de Mifune são uma reminiscência de máscaras bizarras), mas dado o design visual luxuoso as interpretações não podiam ser mais adequadas. Mifune, em particular, canaliza toda a luxúria e a agressividade de Washizu, com o seu comportamento a ficar cada vez mais estranho à medida que o filme avança.

Link
Imdb

Os Sete Samurais (Shichinin no Samurai) 1954

No século XVI, durante a era Sengoku, quando os poderosos samurais estavam com os dias contados pois eram agora desprezados pelos seus aristocráticos senhores. Kambei, um guerreiro veterano sem dinheiro, chega em uma aldeia indefesa que foi saqueada repetidamente por ladrões assassinos. Os moradores do vilarejo pedem a sua ajuda, fazendo com que Kambei recrute seis outros ronins, que concordam em ensinar os habitantes como se defender em troca de comida.
No seu ponto central, a sua história é tão simples que podia ser sumarizada a uma única frase: Uma pequena vila agrícola japonesa é ameaçada por bandidos, e contrata 7 ronin (samurais sem mestre) para os proteger. O mesmo podia ser dito das maiores peças de Shakespeare,  ou de algumas das melhores histórias de Hemingway, ou de alguns dos maiores filmes de Chaplin, porque todos estes são factos que nos lembram que o que é épico sobre uma história, nem sempre é a complexidade da narrativa em si, mas sim a convicção com que ela é contada. Este é um filme que poderia ter sido mais um filme de época japonês, mas a atenção cuidada de Kurosawa, personagem a personagem, e as suas questões sociais, elevam “Os Sete Samurais” acima das suas raízes, garantido ao filme um lugar no panteão, não só dos grandes filmes japoneses, como também dos grandes filmes mundiais. De todos os tempos.
Akira Kurosawa tinha já realizado, ou co-realizado, 14 filmes, quando fez esta obra em 1954, incluindo “Rashomon” que o grande crítico francês André Bazin escreveu: “pode ser dito verdadeiramente que abriu as portas do Ocidente para o cinema japonês. Se “Rashomon” abriu as portas, “Os Sete Samurais” arrancou-lhe as dobradiças, não só pela sua popularidade e aclamação em todo mundo, como pela sua profunda afinidade e ligação temática e visual, com o western americano. Muito facilmente esta pequena aldeia do Japão, podia ser transportada para uma cidade ou fronteira do Oeste americano.
A cada um dos sete samurais é dada uma personalidade única, e um conjunto de dons, o que os torna intrigantes como indivíduos, e nas suas interacções com os outros. Os dois nomes que mais facilmente nos lembramos, são interpretados pelos dois actores preferidos de Kurosawa, Takashi Shimura e Toshirô Mifune, que apareceram juntos em 15 dos 30 filmes do realizador. Shimura interpreta Kambei Shimada, o primeiro samurai contratado pelos camponeses, e o líder do grupo. Shimada é um nobre ronin de grande habilidade, mas lutou todas as suas batalhas do lado perdedor. Shimura impregna o seu personagem com um sentido profundo de honra e nobreza, inspirando os outros ao seu redor. Acreditamos que qualquer outro samurai lutaria ao seu lado, sem promessas de ganhos monetário ou fama.
O personagem de Mifune é quase o oposto. O seu Kikuchiyo é um intriguista, impostor, que no entanto inspira os outros com o seu entusiasmo (como um caponês que se eleva ele próprio à classe Samurai, refletindo as crenças de Kurosawa na democracia e na mobilidade social). No início do filme, ele é pouco mais do que uma piada, um cão vadio que late muito mas não consegue ser respeitado, mas no final, ele alcança uma espécie de redenção, pela sua tenacidade e espírito. Ao longo do filme, Mifune é a principal fonte cómica, a saltar, gritar e berrar com os camponeses pela sua falta de habilidade a lutar. Kurosawa foi claramente influenciado por John Ford, não apenas no âmbito e grandiosidade temática dos seus filmes, mas também no uso do humor obsceno, para distrair entre batalhas. 
Goi nomeado para dois Óscares, e ganhou o Leão de Prata em Veneza.
Link
Imdb

Trono de Sangue (Kumonosu-Jô) 1957

Trono de Sangue, de Akira Kurosawa, é um revisionamento de Macbeth, de William Shakespeare através da lente histórica do Japão feudal e das convenções estéticas do Noh Theater, é uma obra-prima da imaginação expressiva. Inebriante, violento, e intensamente melodramático, filtra temas como a ganância, o poder, e a luxúria através de elementos visuais que são tão ricos e densamente texturizados que têm vida própria. Os elementos naturais como o nevoeiro, a chuva e densidade impenetrável ​​de uma floresta infestada de espíritos tornam-se personagens que medeiam a história de um guerreiro que perde a sua humanidade em sua busca do poder.
A história de Macbeth é, naturalmente, muito conhecida no Ocidente, e encaixa-se muito bem com os interesses temáticos de Kurosawa. Ganância e egoísmo foram elementos importantes no filme da sua descoberta Rashomon , em 1950, mas aqui assumem um tom ainda mais cinzento, beirando o niilismo. Um destino pesado paira sobre tudo o que acontece em Trono de Sangue, e os personagens aparecem no final como fantoches, com as suas cordas dedilhadas e puxadas exactamente como foi profetizado, e as suas débeis tentativas para orientar as vidas, fazendo escolhas ilusórias e passageiras.
A história passa-se algures no século 15, uma época em que o Japão feudal estava dividido por clãs rivais que andavam constantemente em lutas de poder e traição. Quando o filme começa, dois guerreiros, Washizu (Toshirô Mifune, actor preferido de Kurosawa, interpretando o personagem Macbeth) e Miki (Akira Kubo, interpretando o personagem Banquo), têm mostrado grande bravura na batalha. Enquanto andavam pelo labirinto de uma floresta, no caminho de volta para o castelo do seu senhor, eles deparam-se com uma velha bruxa (Chieko Naniwa), que diz que eles serão ambos ascendentes para a proeminência. 
A profecia da bruxa torna-se realidade nessa mesma noite, já que os dois são promovidos e fazem deles senhores de dois castelos importantes. A esposa de Washizu (Isuzu Yamada), cuja aparência e maneirismos físicos são assustadoramente semelhantes aos da bruxa, convence-o de que ele precisa de continuar a consolidar o poder, o que implica, eventualmente, assassinar o senhor do seu clã e assumir o poder total. A cada passo de Washizu em direcção ao poder, torna-se cada vez menos humano, acabando por convencer-se a si mesmo (com a ajuda de uma outra profecia que ele fatalmente não entende) que ele é, na verdade, invencível.
Ao adaptar Macbeth, Kurosawa manteve os parâmetros gerais da história de Shakespeare e a maioria dos personagens principais, mas o que ele estava interessado, principalmente, era nos temas sobre a persistência da natureza humana. O facto de que as mesmas fraquezas humanas podem caracterizar um rei escocês ou um guerreiro japonês feudal de diferentes épocas, diz muito sobre a universalidade da humanidade e as suas fraquezas. Washizu é, como Macbeth, um homem bom, mas um homem de mente fraca e facilmente manipulado, que permite que sua ganância o consuma, e paga o preço no final. É, naturalmente, uma tragédia, que ressoa através dos tempos por causa das verdades básicas que evoca sobre o desejo humano e suas consequências.
No entanto, o que faz Trono de Sangue um grande film é o modo com que Kurosawa invoca estes temas visuais. Tem sido muitas vezes saudado como uma das maiores adaptações fílmicas de Shakespeare porque Kurosawa encontra uma voz completamente cinematográfica à narrativa de Shakespeare.

Link
Imdb

Publicada por My One Thousand Movies em 18:17:00

Para Verem os Filmes:

1. Clicar onde diz “link”, no fim do post
2. clicar onde diz “fazer download” e o filme começar a descarregar. No fim clicar em salvar
3. Para verem os filmes usem o VLC, ou então o RVMB Player. Encontram facilmente no google. Também podem usar o Windows Media Player, mas vão ter de actualizar codecs.

Elias Lazaroni é um artista que a cidade do Porto roubou ao Rio de Janeiro. 

O pincel do carioca é extravagante quebrando padrões estéticos e morais. Desde a antiguidade que várias culturas utilizam o cunho sexual na sua arte mas até hoje a “Origem do Mundo”(1866) de Gustave Coubert causa escândalos e é bloqueada no Facebook. …Ver mais

Publicado por Agenda Cultural do Porto

https://agendaculturalporto.org/ https://www.instagram.com/agenda_cultural_porto/ https://esquizofreniadasartes.wordpress.com/ https://agendaculturalporto.wordpress.com https://www.facebook.com/AgendaCultPorto/ https://www.facebook.com/esquizofreniadasartes/

Deixe um comentário